sábado, 13 de outubro de 2007

Edward Lorenz e o Sistema Penitenciário

Efeito borboleta é um termo que se refere às condições iniciais dentro da teoria do caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz. Segundo a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
O Efeito Borboleta faz parte da Teoria do Caos, a qual encontra aplicações em qualquer área das ciências: exatas (engenharia, física, etc), médicas (medicina, veterinária, etc), biológicas (biologia, zoologia, botânica, etc) ou humanas (psicologia, sociologia, etc), na arte ou religião, entre outras aplicações, seja em áreas convencionais e não convencionais. Assim, o Efeito Borboleta encontra também espaço em qualquer sistema natural, ou seja, em qualquer sistema que seja dinâmico, complexo e adaptativo. Existe um filme com o nome "The Butterfly Effect" (Efeito Borboleta) fazendo referência a esta teoria.
Na ciência clássica, em geral se transformam os sistemas abertos, ou seja, os sistemas dinâmicos, complexos e adaptativos, em sistemas fechados para poder aplicar as leis conhecidas que privilegiam as linearidades em detrimento das não-linearidades. Isto ocorre para facilitar e simplificar a análise de dados. Mas, ao se tomar uma decisão mínima, considerada muitas vezes insignificante, tomada com plena espontaneidade, nos sistemas dinâmicos abertos, poderemos gerar uma transformação inesperada num futuro incerto. Por isto, neste tipo de sistema, quando restrito a uma ou duas variáveis fixando-se as demais, e somente nessa situação chamada limítrofe, o sistema se torna fechado, e o Efeito Borboleta aparentemente não atua, causando assim a impressão de um sistema estático.
Mas qual a relação do "Efeito Borboleta" com o sistema Penitenciário?
É simples, um pequeno e insignificante evento pode quebrar a estabilidade do tecido social de uma unidade prisional, implicando em uma rebelião, ou a combinação de vários eventos, alterar a estrutura do próprio sistema.
Na prática, nunca se sabe de fato como se inicia uma rebelião. A estabilidade de uma unidade prisional, equilibra-se entre a aparente tranquilidade e caos total, o tecido social de uma unidade prisional é composto em estamentos, tanto entre os presos, quanto entre os funcionários que operam a unidade, sempre numa perene queda de braços - os presos tentando ampliar seus limites de influência e territorial, e os funcionários tentando conter e impor limites, e nessa luta desigual, qualquer deslize causa a quebra da estabilidade, abrindo as comportas da violência e do caos, onde tudo justifica tudo. E nessa dinâmica o desequilíbrio é uma questão de tempo, e o tempo é a razão dessa dinâmica em função do confinamento. Esse fenômeno também acontecia nas naus, à época do descobrimento, onde a ansiedade e o confinamento dos marujos, foram o combustível de muitos motins.
O rompimento do tecido social provoca a exacerbação dos instintos mais primitivos dos homens alí confinados, que como uma orda alimentada pelos próprios instintos descontrolados e em choque, gera um mixto de sofrevivência e vingança, cujo ápice é o caos completo.
Quem já teve a possibilidade de presenciar uma rebelião de presos, qual uma orda decontrolada, sentiu terror, ante a impotência diante de tanta violência derramada.
Em uma unidade penitenciária, os ânimos estão sempre exacerbados, mas contidos, ante a aparente tranquilidade e submissão. É uma energia crescente, escalar, qual uma "panela de pressão" pronta a explodir a qualquer momento. É um ambiente inflamável, bastando uma leve faísca para iniciar a ignição, pois o nível de tolerância é baixíssimo ante a ansiedade, medo e o confinamento forçado, sendo improvável determinar quando ocorrerá a cisão.
E esses eventos no micro cosmo de uma unidade prisional, refletem-se no macro cosmo do próprio sistema penitenciário, onde as tensões são subdimenciondas, beneficiados pela própria estanqueidade do ambiente penitenciário, os dirigentes têm a preocupação de manter os problemas dentro dos limites fisicos das muralhas ou cercas, ignorando voluntariamente os limites abstratos da dinâmica do emocional e do psicológico que gera ansiedade, medo e violência.
Assim, como no "Efeito Borboleta", um dirigente, ou o próprio Agente Penitenciário ao tomar uma decisão mínima, considerada muitas vezes insignificante, poderá gerar uma transformação inesperada num futuro incerto. Pois, isoladamente ou cumulativamente, quando restrito a uma ou duas variáveis fixando-se as demais, e somente nessa situação chamada limítrofe, rompe-se a estabilidade, rasga-se o tecido social da unidade, fragmentando a ordem e a disciplina, e a violência contida vem à tona, proporcionalmente ao tempo de acúmulo dessa violência.
Resta-nos analizar o sistema penitenciário, pelo prisma do micro cosmo, ou seja, sob o prisma da própria unidade penitenciária e das forças que se contrapõe, entre os próprios presos, entre os presos e os funcionários e entre os funcionários e a direção, pois qualquer mínima e insignificante mudança nesse gradiente de forças, provocará a quebra da estabilidade gerando o caos, sem que possamos determinar - Quando, onde e porquê???.
Abraços.
Anselmo

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